Existem dores maiores que o câncer, acreditem! Eu estou sentindo ela profundamente.
Há alguns dias vivo momentos dificeis, e presencio acontecimentos que evito comentar aqui.
O Blog é sério, mas como dizem meus amigos, é Light. Só que hoje diante da morte de um político, em bairro nobre, no Rio, não aguentei mais. Vi as pessoas com quem trabalho perplexas, chocadas. E tudo isto a menos de vinte quatro horas do assassinato de um grande empresário, e apenas há cinco dias da morte de uma jovem paulista. Todos acontecimentos fortes, trágicos, como tudo que tenho vivido. Todos estavam com esperança e alegria, como tenho tido. Todos com planos de viver hoje, o dia de hoje de intensa felicidade. Eles se foram, eu fiquei. Com dor. De nada poder fazer.
O que podemos fazer quando a dor nos cobre? Chorar? Eu tenho feito mais. Tenho rezado, tenho encoberto meus olhos, tenho tentado viver a superação. Em tudo. Não choro por causa do câncer, choro por nada poder fazer por mim neste momento. Choro por quero fazer alguma coisa. E sei que não tenho o direito de fraquejar, de chorar de ficar triste. Meu organismo não pode aceitar mais isto: a dor, ou outros sentimentos que nos esmorecem. Mas como fechar os olhos? Eu não posso perder neste momento a minha crença no ser humano, nas pessoas que acredito.
Desentendimentos, pequenas mágoas, mal entendidos são piores do que câncer. Vivi isto em um episódio que envolveu dois grandes amigos: Ronaldo e Filipe. Sei que eles não me esquecem, e sei também que nãos os esqueço. Antes de partir, ainda estarei com eles. Um mal entendido que será resolvido. A perda não gera dor. Mas a forma como ela acontece gera o câncer, aumenta o câncer, desencadeam doenças inúmeras como fala sempre Dr. Eduardo Linhares, meu cirurgião. Não sou amarga, não tenho rancor, não tenho esta personalidade. Sou transparente e por isto talvez eu tenho perdido muitas batalhas. Mas não a do câncer.
Como diz o nosso vice presidente, " Deus não precisa de um câncer para me levar. Pode me levar a qualquer hora. Quando quiser. " Como aconteceu com os três citados neste texto.
Peço desculpas aos meus blogueiros por externar a minha dor. Não sei fingir, não sei fugir e não sei silenciar. E quero continuar. Tenho este defeito horrível de querer falar, escrever, de querer dividir, de esclarecer.
Só alguém que está no limite de sua existência, com um revólver apontado para sua cabeça o tempo todo, pode entender.
Peço pelas famílias dos que se foram que vivem esta grande dor hoje. Tenho pedido por mim. Minha enfermeira disse outro dia que tenho coração valente. Não tenho. Não o meu coração. Talvez minha cabeça, talvez. Sou só um ser humano, uma mulher sincera, lutadora, transparente, sem querer méritos. Apenas amor e carinho de todos. Sei que tenho vocês. Acho que tenho mais que mereço. Mas peço desculpas por este desabafo, e pela minha fragilidade. Acho que Jaque, minha enfermeira, tem razão quando diz que sou guerreira. Mas o coração não é tão valente.
Prefiro pensar na frase de minha terapeuta, que me acompanha nos últimos anos a minha batalha para renascer. E fico com a frase dela: "você tem recursos, estão dentro de você."
E diante da minha felicidade outro dia, ela brincou: -"não corre só gotinhas mágicas nas suas veias, ainda corre vida, vida." E eu achava que não.
Maria Teresa Lago confio tanto de você, que vou acreditar, que ainda vou viver. Feliz. Porque carrego a felicidade dentro mim.
E hoje, se permitem, agradeço a duas amigas, primas e irmãs, que ficaram ao meu lado tomando conta de mim.