segunda-feira, 11 de agosto de 2008

No banco de trás

Você já pegou um táxi aqui no Rio? Bem já peguei em São Paulo, em BH e em outros lugares do Brasil. Mas no Rio, motorista é diferente. Fica íntimo no primeiro minuto e se você bobear faz uma matéria inteira sobre a sua vida em apenas vinte minutos de viagem. Eu costumo andar de táxi todos os dias. Bom, quando posso né?!
Já estou até acostumada com as conversas dos motoristas. Quando são conhecidos ainda vá lá.
Mas já imaginou, você atrasada, pega o taxi para ir pensando no dia, na vida, e aí começa:
-"Quer ar?"
-"Sim."
Eles só perguntam, porque a maioria tem ar para enfeitar e dizer que tem. Eles detestam ligar. E colocam a culpa sempre no passageiro anterior.
-"Um gosta outro não gosta. A senhora quer mesmo?"
O ar eles ainda perguntam, mas a seleção musical é sempre...deles. Você tem que aguentar qualquer estilo que seja o...deles. Hoje foi um destes dias.
Só pego os motoristas conhecidos, aqui do Leme. Gosto de todos. Mas às vêzes, como esta manhã, fui obrigada a pegar qualquer um. Saí do consultório do Dr. Linhares, o craque no bisturi, e fiz sinal. Entrei e o papo começou.
-"Bom dia, pra onde?"
-"Para o Centro."
-"Ok, quer ar?"
-" Tanto faz."
-"É tem passageiro que gosta, outros que não."
Silêncio no banco de trás.
-"Como foi o dia dos pais? "
Pô será que ele não está vendo que sou uma jovem senhora, e a maioria dos pais das jovens senhoras já morreu?? E porque toda mulher tem que ter marido, filhos etc..???
Mas tudo bem, tudo bem. Respondi.
-"Foi ótimo."
Pronto. Pra queê?
-"O meu também. Olha a minha camisa. Meus filhos me deram. Me deram não, me fizeram comprar lá na escola.Mas criança, a gente tem que fazer a vontade."
Continuei muda.
-"Olha olha."
(Ai Meus Deus) "Olha pra frente moço.E, é linda mesmo. Parabéns."
-"Tenho dois filhos. Um de 12 e um pequeninho.
Arrisquei e me dei mal.
-"Puxa doze, casou cedo hem.."
Pronto bastou. Tive que ouvir toda a história do casamento, os altos e baixos e como o cunhado que trocou a mulher por uma mais nova se deu mal.
-"Ah é, a vida." Fica quieta Eliane.
-"É, eu não separo."
-"Ah tá."
-"Sabe, minha irmã estava com vontade de comer feijão branco. Minha mãe saiu correndo, foi comprar em cima da hora. Mas no fim tudo deu certo. Foi um tremento almoço."
-"Ah,legal"
E continuou falando até o Centro.
Bem, sai do carro exausta de tanto ouvir. Mais vinte minutos, ia ter que comer o feijão branco da mãe, conhecer as crianças e dar um pulo na casa dele, que fica na Vila da Penha, bairro da zona norte. Afinal, tinha que dar um alô para a patroa.
Mas ficou pra próxima. Ele saiu feliz ao volante , com a camiseta e as fotos dos filhos.
E eu sai correndo pensando que amanhã mesmo vou renovar minha carteira de habilitação.

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