Ser transparente ou usar disfarces?

Um dos nosso amigos leitores falou em uma de suas postagens que sou uma pessoa transparente. Isto me fêz lembrar uma jornalista amiga que mora hoje no Rio Grande do Sul que vivia me dizendo na televisão, que o "meu mal era ser muito transparente nos meus sentimentos para com as pessoas." Ela dizia que isto só me prejudicava e fazia sofrer, porque elas- as pessoas- poderiam fazer de mim o que bem entendessem. Aquela velha história: a gente permite que isto aconteça. Mas o que fazer? Mudar? Não, acho que disfarçar um pouco pode ser um começo. Mas disfarçar? Coisa chata isso.
Não tenho disfarces, nem inseguranças. Às vêzes uns certos temores. Aprendi a ser transparente com minha mãe, uma mulher rica, charmosa, culta e que se casou - na época- com um médico pobre. Morávamos em um edifício elegante, onde viviam pessoas chiques, mas alguns -segundo boatos dos corredores - viviam de aparência.
Em uma segunda-feira, dia de feira no bairro charmoso desde aqueles tempos, minha mãe desceu ao encontro das frutas e verduras Bonitinha mas vestindo simplesmente um tubinho de algodão. Todos no edifício saiam para feira no maior estilo. Me lembro bem. Eu era bem pequena e disse.
-"Mãe, troca de vestido. Você vai assim?"
-"Assim como ?", perguntou.
-"Com este vestido simplinho..."
Olhando séria para mim foi rápida na resposta.
-"Eliane, eu vou assim e volto com as bolsas cheias de frutas e verduras da melhor qualidade. Tem gente que se arruma, se enfeita e volta com meia dúzia de laranjas. Devemos viver de acordo com nossas posses e do nosso jeito. Nunca viva de aparências. Viver de aparências é uma bobagem. "
Bem que ela era vaidosa. Mas ali aprendi que ser transparente era a melhor saída para o meu coração.
Não importa o preço que paguei e ainda pago por isto.