

Repartir sua dor, suas incertezas com alguém que vive as mesmas angústias faz bem? Ainda não sei. Mas fazer o bem, faz.
Não tenho nenhuma missão como insistem alguns ao longo destes últimos anos. Não acredito que o que aconteceu comigo tenha algum propósito espiritual. Mas não garanto nada. Apenas acho, reflito.
Quando aqueles olhos curiosos, fixos em mim, com muitas expectativas e cansados de tantas conversas e diagnósticos me encararam, no auditório da Multi Hemo Multi Onco, em Recife, por alguns momentos me passou pela cabeça: -Porque estou aqui?
Não vejo diferença entre minha história e daqueles rostos ali sentados aguardando o que eu tinha para dizer. Não sabia a melhor forma de ajudá-los. Mas eu queria contagiá-los de alguma maneira. Logo eu que venho de um ano indescritivelmente sofrido.
Mas eu estava ali diante deles. Pedi a Deus que iluminasse minhas palavras, me guiasse para atingir cada coração, que passasse para cada um minhas crenças face a tudo que tenho vivido.
Foi um privilégio poder falar, mais uma vez, para tantos guerreiros, médicos e psicológos, de variadas idades. É interessante como o cansaço da viagem passou rápido, as dúvidas para acertar o tom se dissipiram e tudo fluiu. O motivo é bem simples. Eu estava entre os meus. Eu estava em família. Na família que, hoje, compartilha comigo as dores de uma doença crônica assustadora e seus duros tratamentos e incertezas. Eles e elas estavam ali e me entendiam. Perfeitamente. Cada palavra, cada lágrima, cada sorriso.
No final, uma avalanche de perguntas. -"O que mudou em você depois do câncer?", -"Quando você se sentiu sentenciada?", -"Afastaram você de seus cachorros?", -"Seus amigos sumiram?". E tantas e tantas mais questões. Nada pôde ficar sem reposta. Não para uma jornalista acostumada a exigi-las.
Diante daqueles olhos antes curiosos e depois tão fraternos e solidários, eu senti que tinha dado o recado. Entre abraços, beijos, cúmplices olhares, respeito, trocas e sorrisos, senti que construímos um laço forte. Eles pensam que eu os ajudei. Bobagem pessoal. Vocês, guerreiros, é que me proporcionaram- mais uma vez- a compor uma nova história; me deram a oportunidade, a grande oportunidade de repartir minha dor. Com quem entende do assunto.
Obrigada Recife. Obrigada Dra Vera Guedes e aos oncologistas Glauber Leitão e Luiz Alberto Mattos. E a toda equipe da clínica.
Obrigada parceiros guerreiros. Óh Xxente! Sinto que a corrente de orações vai aumentar daqui pra frente. Como vocês dizem..."estou toda arrepiada."
Missão? Propósito? Desígnios de Deus? Quem sabe...
Bom dia amigos de todas as partes do mundo!
Nas fotos -A equipe da Multi Hemo e os novos laços.
E vem mais fotos aí. No fim de semana. Beijos